Por: Carlos Magno
2448 visualizações
Tempo leitura: 5 min
Há uma quantidade enorme de conteúdo disponível, servindo para aprendermos sobre qualquer assunto. Para otimizar nossos estudos, é possível usar Lean como ferramenta para conseguir a maior eficiência possível no aprendizado.
Desenvolvimento pessoal é um tema que gosto há bastante tempo. Há 6 anos, escrevi o artigo Diversifique Seus Conhecimentos. Ali, foi apontada a importância de nos tornarmos multidisciplinares, assim como era, por exemplo, Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 - 1716).
Apenas para contextualizar, Leibniz é um ótimo exemplo pois ele era um filósofo e se tornou uma das figuras mais importantes da matemática dado que é o pai do Cálculo Diferencial e Integral.
Além disso, ele refinou o sistema de números binários que se tornaria a base de todos os computadores digitais, tornando-se então um nome importantíssimo para a computação.
Página do artigo "Explication de l'Arithmétique Binaire", Leibniz, 1703/1705
Nas próximas linhas deste texto, não trago nenhum tipo de desafio do tipo “quantos skills novos você consegue adquirir até o final do ano”, nem mesmo definir como você deve estudar e, muito menos, o que você deve estudar.
Acredito que tudo aquilo relacionado ao indivíduo – especialmente seu desenvolvimento pessoal – deve ser definido única e exclusivamente por ele mesmo. Trocando em miúdos, você é responsável pelo seu caminho.
O que trago aqui é uma proposta de usar os princípios do Lean para quem pretende trilhar o caminho da multidisciplinariedade. Novamente, podemos não nos tornarmos um Leibniz, mas podemos desenhar o nosso T-Shape, evoluí-lo para o Pi-Shaped e quem sabe chegar ao Comb-Shaped.
Muito importante lembrar que, adicionar uma especialidade (uma perna specialist no shape) não significa se tornar a maior referência no assunto no primeiro dia. Alguém que, por exemplo, decide que quer aprender técnicas para escrever roteiros de piadas e criar material para shows de stand-up comedy, não deveria esperar ser o novo Chico Anysio. Gerenciar expectativas é importante para evitar a desmotivação e possíveis frustrações.
Aplicando o Lean e seus princípios
Princípio 1 – Valor
Valor é aquilo que agrega, que nos faz subir de nível. Nos estudos é aquilo que realmente te interessa, que você gosta e acredita que vai servir para você. É a gota de água no deserto.
Photo by Tobias Aepply
Ao pensar em adicionar competências, não se prenda aos assuntos apenas por estarem na moda. Quando você se engaja naquilo que realmente quer, a motivação é permanente.
Quais competências você gostaria de adicionar ao seu portfólio pessoal? Qual valor elas teriam para você? Cozinhar, programar, pilotar helicóptero, escrever poesias...
Princípio 2 – Fluxo de Valor
Ao criar uma trilha de estudos, como serão as etapas? Quais ferramentas usar? Qual a maneira você absorver melhor o conteúdo? Planejar como será o fluxo dos estudos, te ajudará criar um caminho eficiente.
Photo por Tom Fisk
Se você é do tipo de pessoa que adora ler e fazer resumos por escrito, esqueça os materiais em vídeo. Por outro lado, se gosta de prestar a atenção em alguém te explicando e não se importa que seja de forma remota, pesquise seus cursos na Coursera, Udemy, Alura, Khan Academy, entre outros, e claro, no Youtube.
Princípio 3 – Fluxo Contínuo
Não adianta iniciar um curso, assistir aulas um sábado inteiro e depois, só colocar a mão de novo, semanas depois. Usando um pensamento lean, opte por criar um fluxo contínuo.
Se definiu que vai estudar diariamente, por exemplo, não tem problema se forem poucas horas, mas tente manter a periodicidade.
Princípio 4 – Produção Puxada
Imagine uma empresa que fabrica notebooks de diversos modelos com diversas configurações de memória, armazenamento, tamanho de tela etc. Quando um cliente liga para esta empresa para customizar um equipamento, dizemos que esta empresa está atendendo o pedido sob esquema de produção puxada.
Nos nossos estudos, podemos aplicar a produção puxada para ir adicionando conhecimentos necessários para formar uma especialidade específica. Exemplo prático, uma pessoa decide que quer incluir Fotografia como uma especialidade. Daí, ela puxa a skill sobre iluminação, flash e cores. Quando definir que tipo de área mais gosta (paisagens, pessoas, fotos de produtos para sites), ela puxa outras skills...
O sistema puxado ajuda a não nos comprometermos com uma pilha de assuntos simultâneos. Ajuda a criarmos um WIP (work in progress), ou melhor, o termo que eu criei (sem falsa modéstia, mas não encontrei essa expressão nesse contexto em nenhum lugar), chamo de SIP (study in progress) – quantos assuntos diferentes você consegue estudar ao mesmo tempo e quais são realmente necessários estarem em paralelo?
Criar um estoque comprando todos os cursos online disponíveis e não concluir nenhum, além de gerar o sentimento de “nunca termino o que começo”, pode ser também um desperdício de dinheiro.
Princípio 5 – Perfeição – a busca pela melhoria contínua
Este último princípio é talvez o mais adequado quando se fala em desenvolvimento pessoal. Buscar a melhoria contínua significa não parar no tempo.
Não é porque alguém sempre foi um expert em uma plataforma específica de computação em nuvem (como AWS ou Google Cloud Plataform), que ela não deveria estudar as demais, ainda que seja apenas para ter uma base de comparação e poder confirmar vantagens e desvantagens de cada uma.
Portanto, coloque em seu planejamento rever temas que já domina buscando se aprofundar ou conhecer suas variantes.
Certamente, se conseguirmos aplicar com sucesso os princípios acima, ainda que não nos tornemos Leibniz do século 21, poderemos ter em nossas mãos um leque cada vez maior de possibilidades que nos serão úteis, tanto para o trabalho, quanto para a vida.
Data da publicação:
17/05/2021
-
Carlos Magno
Itaú Unibanco
Magno tem 20 anos de experiência em TI, iniciou a carreira como Desenvolvedor Java, passou por papéis de Analista de Requisitos, gerente de projetos e hoje atua em projetos de TI para soluções de investimentos pessoa física em um grande banco brasileiro. Magno não sabe cozinhar, mas já fez curso de tornearia mecânica no Senai aos 16 anos e é envolvido com mercado de renda variável há 10 anos.