Por: Mary Poppendieck
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Uma vez havia uma ilha chamada “Artist Island”. As pessoas nesta ilha levavam uma vida muito boa, coletando pedras da ilha Stone, transformando-as em joias deslumbrantes e vendendo para as pessoas da terra dos festivais. No início as pessoas da ilha visitavam a terra dos festivais para ver qual tipo de joia era popular, antes de escolher os tipos de pedras na ilha Stone. Isso não era um excelente uso de tempo dos artesãos e então, depois de um tempo, as pessoas da ilha Stone foram convidadas a levarem as pedras para a “Artist Island”. Mais tarde, para melhorar a eficiência, as pessoas da ilha Stone foram convidadas a entregarem as joias acabadas diretamente na terra dos festivais. Agora, as pessoas da ilha Stone estavam em contato direto com as pessoas do festival, que se tornaram responsáveis por receber as encomendas também.
O povo da “Artist Island” continuava sua busca por eficiência. Eles demoravam muito tempo para moldar um monte de pedras em uma pilha de joias e pelo tempo que isso levava as pessoas da ilha Stone começaram a reclamar que os projetos estavam atrasados. Então, os artesãos aprenderam sobre o Lean e decidiram reduzir o trabalho em andamento. Começaram a trabalhar em lotes de pedras para não mais do que duas semanas e levavam pequenos montes de joias para o embarque na terra dos festivais. No entanto, os barcos de transporte ainda eram bastante grandes e levavam um tempo para encher, por esta razão ainda levava um tempo para as joias chegarem ao povo dos festivais e os projetos continuavam atrasados.
Até que as pessoas da ilha Stone tiveram uma ideia. Se eles investissem em barcos menores, poderiam entregar as joias na terra dos festivais em pequenos lotes. Aos poucos eles mudaram de grandes para pequenas embarcações e começaram a usar esses pequenos barcos para entregar as pedras na “Artist Island”. Agora uma pedra poderia ser escavada de uma mina e levada para “Artist Island” em um mês. Os artesãos estavam mais adiantados e as vendas melhoraram.
Mas ainda havia uma grande quantidade de joias para serem vendidas nos armazéns na terra dos festivais, pois às vezes, as joias tinham falhas e algumas vezes os artesãos não entendiam o que estava sendo pedido para fazerem. Muitas vezes a joia não era tão bonita porque as pessoas da ilha Stone não tinha ciência dos muitos tipos maravilhosos de joias que poderiam ser feitas, por isso eles não solicitavam muitos projetos interessantes.
O terremoto
Ainda nesta época um terremoto deslocou as rochas, segurando a água no lago e o nível de água recuou. “Artist Island” tornou-se uma península ligada ao continente. Alguns artesãos decidiram caminhar para o continente e conversar com as pessoas do festival. Eles descobriram que o povo de lá não gostava muito dos desenhos das joias e então os artesãos voltaram para casa e fizeram alguns novos projetos. Depois de algumas viagens eles aprenderam mais e mais sobre os festivais como o seu calendário, os temas e os tipos de joias que seriam melhor para cada evento. Eles começaram a produzir joias especialmente concebidas para cada festival e as vendas dispararam.
É claro que os artesãos não estavam usando seu tempo tão eficiente quanto antes, pois alguns dos melhores deles passavam seu valioso tempo caminhando até o continente e conversando com as pessoas do festival. O contato com os clientes energizava os artesãos e trazia entusiasmo quando voltavam para a “Artist Island”. Os novos desenhos de joias eram muito populares e nenhuma delas chegou a ficar em um armazém. Assim, o povo da “Artist Island” foi capaz de vender mais joias e cobrar preços mais elevados do que antes.
Os artesãos descobriram que as pessoas do festival estavam procurando por joias únicas e por isso, pediram para que as pessoas da ilha Stone procurassem novos tipos de pedras. As novas pedras que trouxeram não eram apropriadas para a formação das joias e os artesãos desejaram que tivessem mantido alguns dos barcos antigos para que pudessem ir até lá para procurar novas pedras. Um dia os artesãos foram explorar a nova península formada após o terremoto e descobriram um caminho que conectava a ilha Stone com a “Artist Island”. Então eles foram capazes de ir mais até a ilha Stone para ajudar as pessoas a procurem por novas pedras.
Como eles sabiam o que estavam procurando, os artesãos logo descobriram novos tipos de pedras que poderiam ser transformadas em joias facilmente. As pedras eram muito maiores que as anteriores e mal cabiam nas pequenas embarcações e por isso as pessoas da ilha Stone as haviam ignorado. Essas pedras deram uma grande ideia as pessoas da “Artist Island”: talvez eles pudessem fazer copos e taças. Diferentes tipos de pedras eram levados para “Artist Island” e os artesãos começaram a fazer utensílios domésticos. Isso era mais fácil do que fazer joias e por isso, mesmo os artesãos aprendizes eram capazes de moldar as novas pedras. O povo do festival amaram os novos pratos e compraram muitas peças, além das joias que sempre gostaram.
Os artesãos não estavam usando seu tempo tão eficiente agora que alguns dos melhores artesãos que estavam trabalhando com as pessoas da ilha Stone e do festival. Mas novamente, pratos envolvia menos trabalho complicado, fazendo com que mais itens pudessem ser produzidos, além de serem mais fáceis dar problemas na concepção. Além disso, o povo do festival estava ansioso para comprar cada item que os artesãos pudessem produzir. Os armazéns já estavam juntando poeira. Assim os artesãos foram capazes de fazer e vender muitos mais produtos do que antes. Finalmente, desde que os utensílios domésticos foram considerados uma necessidade, os negócios se mantiveram bem, mesmo durante tempos econômicos difíceis.
A nova paisagem
Vamos dar um passei por “Artist Island” poucos anos depois que as águas recuaram e ela se tornou uma península. A antiga ilha tinha três diferentes tipos de artesãos. Os empreendedores, que aprenderam a ter empatia com os clientes, além de buscar novas pedras para que pudessem ser moldadas (resolvendo o problema dos clientes). Eles estão extremamente engajados em seu trabalho e criaram estreitos laços de feedback de forma que possam continuar a desenvolver os produtos que os clientes amam e trazer pedras inovadoras ao mercado.
Este grupo de artesãos revisou a definição de eficiência [1]. Eles não se preocuparam muito com a eficiência dos recursos de forma a manter cada artesão ocupado. Eles se concentram na eficiência do fluxo - isto é, mantendo cada pedra se movimentando da ilha Stone percorrendo todo o caminho até os clientes na terra dos festivais com o menor atraso possível. Eles descobriram que com uma maior eficiência do fluxo, conseguiriam maior qualidade, feedbacks mais rápidos do cliente e, assim, eles seriam mais propensos a fazer produtos que encantam os clientes. Os artesãos empreendedores estão indo muito bem.
Mas nem todo mundo em “Artist Island” percebeu que as águas baixaram, ou se eles notaram, não estavam ansiosos para abandonar suas rotinas confortáveis. Os artesãos tradicionais acreditam na eficiência dos recursos - ou seja, fazer o uso mais eficiente de seu tempo valioso. Assim, eles continuam a receber carregamentos de pedras das pessoas da ilha Stone, transformá-las em joias que estão acostumados a fazer, e enviar para ser vendido na terra dos festivais. Não há problema para eles se as pessoas da ilha Stone encomendam joias erradas, ou se os barcos são tão grandes fazendo que seu trabalho chegue atrasado à terra dos festivais, ou se metade de suas joias acabam em armazéns, não utilizadas pelo povo do festival. Seu trabalho é entregar em tempo hábil o que eles requisitados e reduzir continuamente seus custos.
É claro que o trabalho não é muito desafiador e é difícil conseguir entusiasmo fazendo pilhas de joias que provavelmente ninguém use. Devido a isso, muitos artesãos tradicionais estão saindo para se juntar aos artesãos empreendedores, atraídos pela oportunidade de pensar por si mesmos, o desafio de melhorar suas habilidades artísticas, e a satisfação de ver seu trabalho apreciado pelo povo do festival.
Há uma terceira área na “Artista Island” - que não foi mencionada anteriormente - uma área que tem utilizado as pedras para itens práticos. Aqui encontramos os formadores, artesãos que formam pedras para peças de automóveis, aviões, dispositivos médicos, sistemas de controle e coisas do tipo. Eles representam quase metade da população de “Artista Island”. Os formadores trabalham com os designers de veículos e dispositivos para garantir que suas peças se encaixam e funcionem corretamente. Recentemente, eles têm aprendido algumas coisas com os artesãos empreendedores como: foco em eficiência de fluxo (movendo pedras através da sua área de trabalho, sem espera), entendendo as necessidades dos seus clientes (tanto os designers de dispositivos, bem como os clientes dos dispositivos), e constantemente à procura de novas pedras que possam melhor atender suas necessidades.
O futuro
À medida que os anos passam, os artesãos empreendedores se moverão para o continente para trabalhar lado a lado com o povo do Festival. Os formadores também migrarão para o continente para unir as forças com os designers de dispositivos. Tudo o que será deixado na antiga ilha serão os centros de custo de habitação dos artesãos tradicionais, mas mesmo assim, estes irão gradualmente diminuir e eventualmente desaparecer. Pois no final, enquanto o talento dos artesãos continua a ser essencial, “Artista Island” não importa mais.
Navegando pela nova paisagem
Nós gastamos muito tempo ao longo da última década trabalhando para tornar a vida melhor “Artista Island” (também conhecido como Software Development Land). Nós promovemos os princípios Lean tais como pequenos lotes, fluxo constante e qualidade na fonte. Mas ao longo dos últimos anos temos visto as águas baixarem e admiramos como a ilha se transformou em uma península. O melhor e mais brilhante dos artesãos abandonou os barcos e aprendeu a falar diretamente com os clientes, trabalhando como parceiros em outras disciplinas, e procurando novas abordagens para a resolução de problemas.
Temos escrito três livros sobre “Artista Island”, mas não poderíamos escrever um quarto, porque a ilha praticamente desapareceu.
Em seu lugar está um novo cenário, no qual são esperadas as equipes de produto integradas para fazer as perguntas certas, resolver os problemas certos e entregar
soluções que os clientes gostem. Então nós escrevemos o nosso
quarto livro - The Lean Mindset: Ask the Right Questions - sobre prosperando em um novo cenário,
uma terra sem ilhas, uma terra que não tenha muitos artesãos, uma terra que está cheia de infinitas possibilidades.
Nota:
[1] Agradecimentos a Niklas Modig e Pär Ahlström, por nos apresentar a estes dois pontos de vista sobre a eficiência.
Veja seu excelente livro – This is Lean: Resolving the Efficiency Paradox.
Fonte em inglês: http://www.leanessays.com/
Data da publicação:
10/08/2015
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Mary Poppendieck
Poppendieck.LLC
Mary Poppendieck está na indústria de Tecnologia da Informação há mais de trinta anos. Ela gerenciou o desenvolvimento de software, a gestão da cadeia de abastecimento, as operações de manufatura e o desenvolvimento de novos produtos. Ela foi a cabeça da implementação de um sistema just-in-time em uma instalação da 3M que manufaturava fitas de vídeo. Além disso, liderou as equipes de desenvolvimento de novos produtos, comercializando uma ampla gama de soluções, desde controles digitais até a Light Fiber® da 3M. Mary é uma famosa escritora e palestrante, além de ser coautora do livro “Lean Software Development”, que ganhou o Prêmio de Produtividade em Desenvolvimento de Software em 2004. Uma sequência, “Implementing Lean Software Development”, foi publicada em 2006, e os livros “Leading Lean Software Development” e “The Lean Mindset” foram publicados em 2009 e em 2013, respectivamente.