Por: Rodrigo Aquino
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“... as ferramentas lean e os eventos kaizen em série haviam gerado melhorias localizadas, porém não uma mudança significativa sustentável. Os fluxos de valores mais importantes não haviam realmente mudado. Faltava alguma coisa: um modo de focar e alinhar os esforços das pessoas bem intencionadas, e um sistema de trabalho, algo que direcionasse as ferramentas para os lugares certos.”
Esse trecho citado do livro de Pascal Dennis – Fazendo acontecer a coisa certa – expõe alguns problemas que Harmam estava tendo em sua fábrica. Muitas empresas começam a jornada lean em uma situação similar, ou seja, conseguem alguns bons resultados inicialmente, porém, quase nenhum deles sustentável.
Isso normalmente ocorre devido a maneira como encaramos os problemas que surgem no dia a dia e isso faz toda a diferença entre o sucesso e o fracasso. É por isso que gostaria de comentar sobre alguns modelos mentais citados no livro de Dennis que diferencia o planejamento convencional do planejamento lean. Com modelos mentais bem definidos você e sua equipe encurtarão o caminho até o sucesso.
Figura 1. Retirada e adaptada do livro: Fazendo acontecer a coisa certa (2007) - Pascal Dennis
O primeiro modelo, além de ser totalmente desmotivador cria uma barreira mental ao subordinado. No modelo lean, o chefe valoriza a opinião do colaborador fazendo com que ele amadureça cada vez mais profissionalmente.
Por mais que uma organização tenha diferentes tipos de produtos/serviços bem aceitos no mercado, o mais valioso elemento dessa empresa são as pessoas. Líderes motivadores são o que ela precisa para manter e aumentar cada vez mais seu valor no mercado.
Figura 2. Retirada e adaptada do livro: Fazendo acontecer a coisa certa (2007) - Pascal Dennis
Você já deve ter ouvido falar do termo “Gemba”. Um conceito aparentemente simples de explicar, porém, não tão simples de se fazer, especialmente pelos líderes de uma organização que possui um modelo de planejamento convencional.
Todo líder deve adotar a prática do “Genchi Genbutsu” – vá e veja com os próprios olhos, não com a intensão de punir o colaborador, mas com o objetivo de entender a situação e ter seu próprio ponto de vista sobre o que está acontecendo na empresa, além de usar sua experiência para ajudar os demais colaboradores.
Figura 3. Retirada e adaptada do livro: Fazendo acontecer a coisa certa (2007) - Pascal Dennis
Criar padrões simples e visuais para coisas realmente importantes é uma maneira de entender mais claramente como as coisas estão sendo produzidas na organização. Esses padrões visuais são importantes, pois estão conectados diretamente com os produtos e serviços que a empresa oferece aos seus clientes.
São esses padrões que garantirão a qualidade e posteriormente a flexibilidade de uma organização. O quarto princípio apresentado no livro Sistema Toyota de Desenvolvimento de Produto de James Morgan fala exatamente sobre isso – a padronização leva a flexibilidade.
Figura 4. Retirada e adaptada do livro: Fazendo acontecer a coisa certa (2007) - Pascal Dennis
Arrisco a dizer que se você tentar implementar esse modelo em mais de 90% das empresas no Brasil, a grande maioria dos líderes acharão que você não é uma pessoa sensata. No modelo convencional, parar a produção, nem que seja por alguns segundos, é uma maneira de levar a empresa à falência. Devemos realmente tomar um pouco de cuidado com esse tema.
Na Toyota, por exemplo, a linha de produção pode e deve ser parada sempre que houver algum tipo de problema que impacte diretamente a qualidade do produto final. Porém, existe um procedimento chamado cadeia de ajuda na qual o operador chama o supervisor depois de alguns segundos caso não consiga resolver o problema – o escalonamento continua até que o problema seja resolvido. A parada na linha de produção ocorre após alguns escalonamentos, mas não em primeira instância.
Figura 5. Retirada e adaptada do livro: Fazendo acontecer a coisa certa (2007) - Pascal Dennis
Esconder problemas é uma forma de mentirmos para nós mesmos, e pior, repassá-los aos clientes. Encarar os problemas, deixando-os visíveis, é uma forma de aceitar o que acontece na empresa para que posteriormente uma atitude seja tomada e o aprendizado seja compartilhado.
Todos da organização devem saber o que está acontecendo de forma que possam ajudar e dar sugestões de melhoria. Dessa maneira, as pessoas poderão aprender com falhas cometidas em outros departamentos, podendo aprender se prevenindo e consequentemente melhorando seu trabalho constantemente.
Figura 6. Retirada e adaptada do livro: Fazendo acontecer a coisa certa (2007) - Pascal Dennis
Antes de resolver um problema pense e faça uma análise um pouco mais profunda. Veja se esse problema possui conexão com outro e tente enxergar a situação como um todo, principalmente sob o ponto de vista do cliente. Se necessário, simplifique o que já está pronto a fim de que torne o problema atual descomplicado.
Você pode também fazer algumas seguintes perguntas a si mesmo:
- “Essa atitude resolve o problema do cliente definitivamente?”
- “Como eu resolvo esse problema sem gastar muitas horas de trabalho?”
- “O que já possuo pronto que pode me ajudar a resolver essa situação?”
- “Como não gerar trabalho para minha equipe ou outros colaboradores a partir da solução encontrada?”
Esses são alguns modelos mentais que diferenciam uma empresa que está indo rápido a lugar algum, de outra que está fazendo acontecer a coisa certa. Antes de desdobrar a estratégia de sua empresa verifique se os colaboradores entendem esses modelos mentais ao ponto de praticá-los no dia a dia. Uma organização pode estar apta a entender o sistema de gestão lean, mas se não estiver apta a praticá-lo da forma correta, não chegará a lugar algum.
Todos nós vivemos anos e anos aprendendo e praticando os modelos mentais convencionais. Por isso, essa mudança não é algo simples e rápido de se fazer. A prática no dia a dia é necessária para que aos poucos nosso precipitado modelo mental seja esquecido, melhorando tanto nossa vida profissional como pessoal.
O desdobramento da estratégia empresarial é a chave para o sucesso de uma organização quando nos referimos ao planejamento/execução de onde ela quer chegar. Com o sistema lean de gestão esse caminho se tornará mais curto para sua empresa alcançar o sucesso, porém muitos paradigmas deverão ser quebrados.
Em relação a TI, todas as situações descritas anteriormente são exatamente as mesmas, ou seja, para desdobrarmos uma estratégia empresarial é necessário estarmos preparados a fim de que possamos fazer a coisa certa acontecer.
Bibliografia
- Fazendo acontecer a coisa certa, Pascal Dennis (2007) - Publicação Lean Institute Brasil
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Data da publicação:
21/09/2015
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Rodrigo Aquino
LEAN IT
Professor do MBA, Pós-graduação e banca examinadora na FGV, incluindo as disciplinas de Transformação Digital, Inovação, Planejamento Estratégico, além de Estruturas e Processos Organizacionais, +27 anos de experiência atuando em projetos nacionais e internacionais com foco em mapeamento, inovação e melhoria de processos. MBA Engenharia de Software pela USP e Bacharel em Ciência da Computação pela PUC-SP. Responsável pela revisão técnica do primeiro livro de Lean IT lançado no Brasil, revisor dos termos de TI do livro Liderar com Respeito, autor do livro: WPage - Padronizando o desenvolvimento de Web Sites e co-autor do livro Liderança Exponencial. Experiência nas áreas de TI, saúde, office e serviços, construção, manufatura, trabalhando na melhoria de processos e transformação digital nas empresas. Co-autor do Framework Lean IT 2.0 e da ferramenta A3 Ágil. Experiência com Business Agility, Gestão de Projetos Lean e Ágil, SCRUM, OKR, Kanban, Gestão de Crise, ESG, LGPD e Lean Canvas. Trabalhou nas empresas: Petrobras, Wunderman, TOTVS, ICEC (construções metálicas), etc.